nebulosas planetárias

UM BREVE SUSPIRO NO COSMOS

Ainda no século XVIII, astrônomos detectaram corpos celestes diferentes de tudo aquilo que se conhecia no Universo. Devido a baixa resolução dos telescópios, tais objetos cósmicos foram inicialmente interpretados como gigantes planetas gasosos, sendo batizados como Nebulosas Planetárias. Embora o nome tenha permanecido ao longo dos séculos, hoje sabemos que a real natureza desses objetos é bem diferente daquela que se imaginava.

Nascidas do gás e da poeira, no interior de nuvens gigantes, estrelas como o Sol encerram seus ciclos de vida desprendendo suas camadas externas e enriquecendo o Universo com uma grande quantidade de matéria. A medida em que se expande, resfria e se mistura ao meio interestelar, parte desse material ejetado condensa, formando grãos de poeira e revelando um núcleo estelar incrivelmente quente e denso, que ioniza os gases ao seu redor. A luminosa nuvem que se forma, conhecida como Nebulosa Planetária, dissipa-se lentamente pelo meio interestelar em uma das mais fantásticas demonstrações da grandiosidade e da beleza do Universo.

Imagem da Nebulosa do Anel capturada pelo telescópio James Webb.
Créditos da imagem: Nasa/ESA/Webb, M. Barlow, N. Cox & R. Wesson

Diferentemente do que ocorre nas impactantes e explosivas Supernovas, os gases de uma Nebulosa Planetária se afastam da estrela central com pouca velocidade, aproximadamente alguns quilômetros por segundo. À medida em que isso ocorre, o núcleo estelar esfria, cessando as reações de <fusão termonuclear e transformando-se em uma pequena e densa Anã Branca, que se move pelo Diagrama Cor-Magnitude. Eventualmente, a estrela anã reduz sua temperatura até um ponto onde não emite radiação suficiente para ionizar a nuvem gasosa cada vez mais distante, que torna-se invisível em um período de milhares de anos — um breve suspiro, em termos cósmicos.

Caminho evolutivo de estrelas como o Sol no Diagrama.
Créditos da Imagem: S. McMillan, Astronomy Today. Adaptação de Fabrizio Ferro.

Ao expandirem-se, os gases e grãos de poeira que envolvem a Anã Branca se organizam de diferentes formas, sendo possível encontrar nebulosas esféricas, elípticas, irregulares e bipolares, produzindo algumas das visões mais extraordinárias de todo o Universo observável. Na Via Láctea, há cerca de 3 a 4 mil Nebulosas Planetárias conhecidas, um número relativamente pequeno se comparado às 200 bilhões de estrelas que iluminam a nossa galáxia. A partir da modernização dos telescópios e melhoria das técnicas utilizadas por astrofísicos(as) ao longo do tempo, diferentes aspectos dessa fase evolutiva passaram a ser descobertos. Dentro deste campo de pesquisa, a astrofísica Denise Rocha Gonçalves dedica-se ao estudo dos estágios finais da evolução estelar, investigando abundâncias químicas e condições físicas de diferentes Nebulosas Planetárias, a fim de contribuir com a compreensão de sua formação e evolução no Universo.

Denise Rocha Gonçalves

UFRJ

Possui graduação em Física (licenciatura e bacharelado) pela UFPR (1989), mestrado (1993) e doutorado (1997) em Astronomia pela USP. Como pós-doutora e visitante a nível sabático, fez pesquisa em várias instituições: USP; Instituto de Astrofísica de Canarias; University College London; ALMA Group of the National Astronomical Observatory of Japan. Desde 2007, é professora do Observatório do Valongo da UFRJ. É membro da International Astronomical Union. Atua em pesquisa na área de Astronomia, com ênfase em estágios finais da evolução estelar (nebulosas planetárias e estrelas simbióticas), abundâncias químicas nebulares e evolução química de galáxias do Grupo Local, além de em galáxias anãs em geral.